O cão, supostamente, tem um olfato muito melhor que o nosso. Sendo
assim, com um sentido de cheiro extremamente sensível, como um cão
suporta enterrar seu focinho em uma lata de lixo?
Segundo a pesquisadora Alexandra Horowitz, o cão não tem simplesmente
uma versão “aumentada” do nosso olfato, e sim melhorada. Para eles, não
é que o cheiro fica mais forte. “Os cheiros têm diferentes camadas, o
que provavelmente dá aos cães uma gama muito maior de tipos de
informação”, explica.
Ela compara esse sentido com a forma como podemos desfrutar de uma
pintura: de longe, a vemos de um jeito, mas a apreciamos de uma maneira
diferente quando podemos ver de perto as pinceladas, por exemplo.
Isso faz com que a experiência do cão seja fundamentalmente diferente
da nossa. Quando saímos para uma caminhada, por exemplo, tiramos
praticamente todas as nossas informações da visão. Mas os olhos do cão
servem apenas de apoio.
Isto foi demonstrado em um experimento, quando cães da polícia tinham
que seguir uma trilha de cheiro que parecia correr na direção oposta a
um conjunto de pegadas no chão. Eles invariavelmente seguiram seus
narizes, e ignoraram os sinais visuais contraditórios.
Imaginar o mundo perfumado na pele de um cão é olhar em volta e
imaginar que tudo que você vê tem um perfume próprio. E não apenas cada
objeto; partes diferentes de um mesmo objeto podem conter diferentes
tipos de informação.
Por exemplo, Horowitz cita uma rosa: cada pétala pode ter um perfume
diferente, dizendo ao cão que já foi visitada por insetos diferentes,
que deixaram traços reveladores de pólen de outras flores. Além de
sentir o perfume individual dos seres humanos que já tocaram a flor, o
cão poderia até mesmo adivinhar por quais coisas eles passaram.
Com isso, o cheiro pode oferecer ao um cão uma forma de entender a
passagem do tempo. Horowitz sugere que um cão pode, talvez, perceber o
passado pelo cheiro de um cão que urinou há tempo suficiente para o
perfume ter mudado de caráter e se tornado mais fraco.
Um estudo recente mostrou que os cães podem até mesmo ser capazes de
detectar as diferenças sutis no odor de um passo para o outro conforme
seguem uma trilha de cheiro humano. Sendo assim, o cão poderia imaginar o
futuro ao sentir o cheiro de cães, seres humanos ou outros objetos
vindo em sua direção numa brisa.
Infelizmente, não há nenhuma maneira para um mero ser humano entrar neste mundo altamente detalhado do olfato canino.
Quando nós estamos cheirando, ficamos esporadicamente “cegos” para as
essências, conforme inspiramos e expiramos através dos mesmos furos. Um
estudo de 2009 da dinâmica de fluidos do cão mostrou que seu sistema é
muito mais complexo.
Cada narina é menor do que a distância entre as duas, o que significa
que eles inalam o ar a partir de duas regiões distintas do espaço, o
que permite que o cão decifre a direção de um perfume.
O movimento de cheirar também canaliza o ar velho para fora através
dos lados das narinas, uma ação que puxa ar novo para dentro do nariz.
Uma vez dentro do nariz, o ar gira em torno de até 300 milhões de
receptores olfativos, comparado com nossos míseros 6 milhões.
Mesmo se os humanos pudessem recolher toda essa informação, nosso
cérebro não saberia o que fazer com ela: o córtex olfativo do cão, que
processa as informações de cheiro, ocupa 12,5% da massa total de seu
cérebro, enquanto o nosso é responsável por menos de 1% .
Ok, não saberemos como é cheirar como um cão. Mas podemos imaginar… seria maravilhoso, não?
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