Dispositivo produzido no Brasil pode prevenir infartos e evitar cirurgias cardiovasculares mais extensas
No dia 30 de janeiro foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o primeiro stent cardiovascular farmacológico desenvolvido no Brasil. Até agora estavam disponíveis apenas os stents sem fármacos de fabricação nacional.
O dispositivo serve para manter as artérias livres de placas de gordura
que podem comprometer a passagem de sangue nas coronárias e levar a
problemas cardíacos. Os stents são formados por pequenos
cilindros de telas metálicas muito finas, acompanhados de um balão no
seu interior e um cateter. Quando inflado, esse balão se expande dentro
da artéria ou dos vasos periféricos, fazendo o sangue fluir. Para
retirá-lo e deixar o fluxo preservado, o cilindro de tela metálica é
deixado dentro da artéria. Dessa forma é possível evitar infartos
ou operações cirúrgicas de grande porte, como a colocação de pontes de
safena.
“O problema é que de 10% a 20% das pessoas voltam a ter obstrução no
local em que está o stent devido à cicatrização ao redor do
dispositivo. Daí a importância de se implantar stents que
possuam drogas antiproliferativas de tecidos”, diz o professor Pedro
Lemos, diretor do Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista
do Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (InCor). O fármaco adere à tela metálica por meio de uma cola
polimérica biocompatível que desaparece conforme o medicamento se solta
do tubo.
O stent farmacológico é fabricado em parceria pelas empresas
Innovatech, da capital paulista, e Scitech, de Goiânia (GO). A primeira
corta com laser o cilindro metálico de ligas de cobalto e cromo e faz o
tratamento superficial do dispositivo. A empresa goiana produz as
outras partes do stent e aplica o medicamento Rapamicina na
parte externa do tubo metálico. Essa empresa também comercializa o
produto que leva o nome de Cronus, sem fármaco, e Inspiron, com o
medicamento. “Estamos constantemente aprimorando o desenho da malha
metálica do stent para ele não perder, no atrito com as paredes
do cateter, o polímero que contém o fármaco”, diz Spero Morato, diretor
executivo da Innovatech, empresa que recebeu financiamento para o
desenvolvimento do stent por meio do Programa Pesquisa Inovativa em
Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP (leia em Pesquisa FAPESP n° 173 e n° 110).
O desenvolvimento do produto foi feito pelas duas empresas em
estreita colaboração com os pesquisadores do InCor. Outras instituições
como o Instituto Dante Pazzanese, de São Paulo, participaram na fase
final de testes clínicos. “Esse trabalho que levou ao stent farmacológico brasileiro faz parte do Programa de Desenvolvimento Nacional de Stents (PDNS)
estabelecido em 2004 com financiamento da Finep [Financiadora de
Estudos e Projetos do Ministério de Ciência e Tecnologia] e CNPq
[Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] com
verba do Ministério da Saúde”, diz Lemos, coordenador do programa.
“Foram investidos cerca de R$ 4 milhões no programa”, diz.
O produto, cujo comprimento varia entre 6 milímetros (mm) e 38 mm, e
diâmetro entre 2,5 mm e 4,5 mm, já está implantado, na versão sem
fármaco, em mais de 7 mil pacientes no país desde 2009, sendo hoje
exportado para 32 países. Até esse ano, todos os stents implantados no Brasil eram importados. O preço de cada stent
nacional é cerca de 10% a 20% inferior ao fabricado fora do país. Cada
um custa em torno de R$ 2 mil sem medicamento e R$ 10 mil com a droga.
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